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quarta-feira, 25 de julho de 2007

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CENTRO NERVOSO




Ë o cruzamento movimentado de um centro nervoso, onde os que param de repente se esbarram nos que passam apressados. Ë um sinal que fecha, um carro que avança, alguém que xinga, que dá um chute ou tapa nas marchas, para conter ou descontar a agitação dos problemas.
Um é um homem, pelos trajes que veste. Não muito à moda, que possa aparecer demais, e nem muito fora dela, a ponto de desaparecer entre os coitados que vão e vêm. O tal homem não é gordo, ainda que não possa ser chamado de magro. Também não é alto, que não possa rastejar por baixo de uma situação ou de outra. É honesto, de acordo com as instâncias em que atua. Não é um ator. Não que seja verdadeiro por ser o que é. Um homem mente em qualquer profissão. O homem estava abaixado por uma dessas razões malucas e, quando tomou o impulso para se erguer, alguém esbarrou-lhe no rosto devolvendo-o ao chão. Agora, o homem caiu sentado. Está mais ridículo do que preocupado. Não devia ser assim. Porque, quando planta as mãos para auxiliar os pés, dois ou três dos transeuntes piscam-lhe feio, esmagando-lhe os ossos tortos no asfalto. O homem grita. Não é contra ninguém, ainda. Tenta outra vez. Projeta-se para frente, como quem está crente que vai se levantar. Mas tropeça. Se pões a tropeçar e tropeça três ou quatro vezes, até que um joelho obscuro surge do nada e acerta-lhe em cheio o meio da cara. Ele cai. Junta mais uma vez as forças, que são cada vez mais fracas. Lança-se para cima. Logo está sendo posto abaixo pelo ventre de uma gestante que está indo para o trabalho. Ele tem vergonha de reclamar com essa mulher. E com todas as outras, pois cinco ou seis delas lhe acertam a nuca com bolsadas pesadas. Ele pede perdão. É um ato falho. Os pedestres continuam andando. Ele está levando porradas por todos os lados. Seu nariz sangra. Os dentes balançam como se conversassem uns com os outros. Ele chora mais que grita; guincha mais que pede, enquanto seu olho incha a ponto de cega-lo. Muitos ainda poderiam vê-lo. Ele está suado. Ofendido, os sentidos embaçados. Insiste em colocar-se em pé. Apenas para cair de quatro, ser mais uma vez chutado pra debaixo do tapete da pista, ao sabor de um boca de lobo. Quando ele percebe que ninguém o percebe, coloca suas últimas forças para agarrar-se com unhas e dentes à sarjeta. Mas é tarde. O farol se abre...

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